Você pode chamar de mandioca, macaxeira ou aipim. O nome muda de região para região, mas a importância dessa raiz para a alimentação e economia do Brasil é incontestável. Presente em todos os municípios do país, ela alimenta cerca de 1 bilhão de pessoas no mundo, especialmente em países em desenvolvimento. No Brasil, está no prato, mas também na maquiagem, no papel, nas roupas e até em medicamentos – tudo com fécula de mandioca.
Originária da América do Sul, a cultura já se espalhou por todos os continentes. Hoje, quem lidera a produção mundial é a Nigéria, com 58 milhões de toneladas por ano. O Brasil ocupa a quinta posição no ranking, com 19,1 milhões de toneladas em 2024, segundo o IBGE.
Para todas as cadeias produtivas, você tem a figura do sementeiro. E pra mandioca faltava isso. Então nós investimos nesse projeto, que é o programa Reniva, que é justamente formar uma rede de maniveiros para que o produtor tenha acesso a material de plantio com garantias de sanidade vegetal e identidade genética”, explica o pesquisador da Embrapa, Hermínio Souza Rocha.
Exemplo de sucesso
A cultura da mandioca tem um desafio peculiar: a facilidade com que se perde a identidade genética das variedades. Essa perda impacta diretamente na produtividade e na resistência das plantas. Com o Reniva, os maniveiros recebem treinamento e suporte técnico para multiplicar mudas selecionadas de forma segura e eficiente, fazendo com que os materiais cheguem aos pequenos, médios e grandes produtores.
No Maranhão, um engenheiro agrônomo parceiro da Embrapa já aplica essa tecnologia em uma área irrigada com dez cultivares diferentes. Duas delas – a BRS Formosa e a BRS Poti – já se destacam. Aos nove meses de cultivo, registraram produtividade de 29 toneladas por hectare, podendo alcançar 35 toneladas aos 12 meses.
“A grande maioria das cultivares do sistema tem potencial produtivo acima de 25 toneladas aos 12 meses. Então nós temos que levar uma maniva sem doença, com vigor e alta produtividade”, afirma o maniveiro Benedito Dutra.
Vassoura-de-bruxa e outras ameaças
Nem todo problema no campo é visível. Algumas doenças agem de forma silenciosa, mas são extremamente danosas. Viroses e fitoplasmas, por exemplo, não apresentam sintomas evidentes, mas podem causar perdas de até 40% da produtividade. Por isso, usar mudas sadias é mais do que uma escolha: é uma estratégia vital.
“Esses vírus e fitoplasmas são inimigos invisíveis. Roubam até 40% da sua produtividade. Quem é que quer um inimigo desses trabalhando com você?”, reforça Hermínio.
Mas a lista de desafios não para por aí. Um novo alerta sanitário foi detectado: a vassoura-de-bruxa da mandioca, causada pelo fungo Ceratobasidium theobromae. Apesar do nome parecido, não tem relação com a conhecida praga do cacau. Essa doença surgiu em 2024 no Brasil e já acendeu o sinal vermelho entre os pesquisadores.
O patógeno foi identificado pela Embrapa em plantios no Oiapoque (AP), na fronteira com a Guiana Francesa — sendo o primeiro registro oficial no Brasil. A infecção pode reduzir drasticamente a produtividade e já mobiliza ações emergenciais do Ministério da Agricultura e da Embrapa, que estudam o fungo e multiplicam cultivares resistentes para evitar a disseminação.
Apesar dos desafios, a tecnologia já dá resultados. No Pará, a multiplicação de cultivares resistentes já está em prática há bastante tempo. Agora, o foco é expandir a estratégia para o Maranhão e, em seguida, para outros estados do Nordeste.
“Quero que essa iniciativa cresça, começando pelo Maranhão e avançando para outros estados do Nordeste. No Pará, já aplicamos esse modelo com bons resultados há anos”, afirma Benedito Dutra.